Eu já sumi do instagram por estar triste e alheia a tudo, e já desapareci por estar ocupada demais vivendo os momentos mais felizes da minha vida.
Eu já tirei fotos perfeitas em dias péssimos; e já esqueci de tirar uma fotinho sequer em dias inesquecíveis.
Eu já vivi histórias de amor dignas de filme, que nunca vieram pro feed, e já compartilhei cenas lindas de relacionamentos que iam de mal a pior.
Eu acho que tenho mais registros com pessoas que fizeram uma breve passagem pela minha vida do que com meus amigos mais próximos.
Eu já senti depressão profunda em Byron Bay, o lugar mais mágico onde eu já pisei, e já senti cada cm do meu corpo arrepiar de êxtase e felicidade em Bikhaner, uma cidadezinha suja e marginalizada da Índia.
Eu já estive na minha fase mais “bonita”, magra e sarada, viciada em aprovação e com a autoestima no lixo; e já estive barrigudinha e despreocupada, feliz e in love comigo mesma.
Eu já vi, e como vi, pessoas que trabalham dia e noite pra ter uma imagem espiritualizada sendo extremamente tóxicas, e já conheci pessoas que dizem não acreditar em nada e que são mais maduras e bondosas que um bando de “guru”.
Eu já dei chance pro bad boy que tinha td pra me decepcionar e que me surpreendeu com um coração puro, e já sofri por muito “bonzinho” que ganharia o selo de aprovação de qualquer mãe rs.
Eu já escrevi textos inspiradíssimos, os quais eu olho e penso “fui eu que escrevi isso?” e já passei, e passo, longas horas quebrando a cabeça pra terminar textinhos “medíocres” e dias, qdo não meses, até amarrar poemas curtos e comuns.
Eu já tive crise de ansiedade no banheiro do “trabalho dos sonhos”, enquanto meus colegas invejavam meu aparente sucesso, e momentos de paz e satisfação profunda enquanto ganhava uma merreca pra colher blueberries numa fazendinha na Australia.
Eu já falei bonito, preguei verdades sem as ter integrado, dei conselhos que eu mesma não segui. E já, em inúmeras situações onde poderia me exibir, escolhi o silêncio, deixando insights valiosos no meu mundinho interno.
Percebe? A cilada? Eu sim. Desde novinha.
Cresci ouvindo que se deve economizar com tudo, menos com livros e viagens. Sim, tive sorte. Mas a sorte maior foi ter também, aprendido desde cedo que nem tudo é o que parece.
Aliás, que quase nada é. Eu devia ter uns 12 anos, estávamos em Paris e rolou alguma treta de família – clássico, ainda mais com os 4 espremidos num quartinho do Íbis.
Lembro exatamente da minha mãe, que sempre dava um jeito pra que eu e minha irmã pudéssemos perder mil dias de aula e viajar em baixa temporada, falando: Seus amigos agora estão lá em Bauru, acordando pra ir pra aula.. Provavelmente pensando nossa, a Bia tá em PARIS… Que sorte. E a gnt aqui, aos berros. Tá vendo como nem tudo é o que parece?
Enquanto isso meu pai, ano após ano, repetia pra mim e pra minha irmã “E se eu dissesse que vou pagar uma viagem pras duas irem *sozinhas* pra Disney, por 2 semanas… que tal? Só tem uma condição: vcs não podem contar pra nin-guém nem postar nenhuma foto no (Orkut rs). E aí, querem?”
“Ah pai… pára…” Resposta mental: “Deus me livre!” Se eu não puder compartilhar, qual a graça?!
Nenhuma? Ah… então quer dizer que eu vivo pro outro?
E assim, sem querer-querendo, ele provocava essa reflexão. Funcionou. Mas, ainda assim, vira e mexe eu esqueço.
Então vim aqui, lembrar você, e a mim. Que nenhuma foto, vídeo, texto bem escrito, reels perfeitamente sincronizado, substitui a EXPERIÊNCIA.
Não me interessa se você é o John Mayer ou o Zé da esquina, se tem uma vida artística ou discreta e pacata, eu quero é saber quem é você quando ninguém ta olhando, o comentário que faz sobre quem não tá presente, a forma que reage quando as coisas não saem como esperado.
Lindo feed, parabéns, toda presença online diz algo, mas a sua vibe – real, raw e offline… GRITA. E é isso que eu quero ouvir.
Porque o resto, meu amor… o resto é atuação. E disso todos nós entendemos.