Pra onde vão as histórias que não vivemos? Os sonhos que não se concretizaram? Os casos de amor que não vingaram? Será que elas evoluem e se manifestam com uma nova cara?
Seria a surpresa boa do presente uma grande mistureba de desejos nunca concretizados? Tão plural, tão expandida, que nem percebemos que de surpresa aquilo ali não tem nada?
E aí, erroneamente afirmamos – que bom que aquilo não deu certo, pra que isso aqui desse? E se o isso aqui estiver inseparavelmente conectado àquilo? E se foi, justamente aquilo que deu vida a isso?
Dá pra entender onde eu quero chegar? Será que eu tô ficando louca? Venho pensando nisso faz tempo. Será que mais alguém questiona? Eu realmente gostaria de saber.
Pra onde foi a versão de mim que viveu o que eu nunca vivi? Onde ela está? Porque ela não evapora, disso eu tenho certeza.
Onde está a Bia que cursou arquitetura, que estudou em Portugal e morou na Espanha, que escolheu seguir como advogada e desistiu de ir pra Austrália, que deu uma quinta chance pra quem não merecia nem a segunda, que pegou o voo pro Brasil e nunca trabalhou no Insight Timer, que comprou um voo só de ida pra Bali e não pra India?
Veja bem, eu não tô falando de arrependimento. É que eu realmente me importo com essas versões e por isso gostaria muito de saber – Onde estão vocês?
Aqui, uma voz me diz. Sim, aqui, às vezes tão palpáveis quanto o agora, mas… e quando distantes, nebulosas…. estão aonde? Nos sonhos que aparentemente não fazem nenhum sentido? Nas ideias que brotam do meu inconsciente? No sentimento de deja vu?
Esse ano um astrólogo me disse – seu mapa é um grande paradoxo. Ora você quer largar tudo pra meditar nas montanhas, ora quer é morar na praia pra todo sempre, e em seguida precisa, necessita, morar no centro de São Paulo, experimentar o olho do furacão de Nova York.
Meus olhos encheram de lágrimas. Meu Deus, sim. Sim. “Eu não sou louca”, pensei, “Você é mutável”, ele disse.
Sou mesmo. E tem hora que dói. Dói saber que uma só existência é muito pouco tempo pra todas as vidas que pretendo viver.
E por isso eu sei – tem mais. Há de ter. E de repente é lá que todas essas versões estão. ☁️
São Paulo, Maio de 2022.