ESCRITO POR
beasbeghen

Ô Ocitocina

Eu sei que o álcool
A nicotina
O açúcar
Roubaram a cena
Ganharam fama
Estudos
Manchetes
Mas cê já provou uma droguinha chamada
Começo de paixão?

Eu suspeito
Na verdade
Eu afirmo
Mesmo sendo meio careta
E desconhecendo
Muita coisa
Que nenhuma substância
É capaz de reproduzir
o grau de embriaguez
que um amor provoca

Não tem pó
Não tem pílula
Não tem erva
Nesse mundo
Que faça com um ser humano
O que faz uma paixão
Que chega do nada
Sem sequer perguntar
se tudo bem
Tornar tudo novo
de novo

“Vamos nos jogar de onde já caímos”
Do encontro
que dura nove horas
Da primeira madrugada
virada
Tudo é novidade
Textura da mão
Cheiro do cabelo
Formato do pescoço
Curva do nariz

Da descoberta ao suspense
Do suspense à descoberta
Um looping
Bagunçado
Viciante
Que ambos torcem
Pra não ter fim

Porque de repente

Borboletas amarelas dançam
em meio ao congestionamento
da Avenida Paulista
Será que alguém mais reparou
Será mesmo
Que elas sempre estiveram ali

O mundo acorda amigável
Fluorescente
Gostoso demais
Pra não ser verdade
O vizinho rabugento
parece educado
Vermelho e lilás combinam
E parecem estar
por toda a parte

O sinal abre
O carro ao lado dá passagem
Sua música preferida
totalmente desconhecida
começa a tocar
na Jovem Pam?
Fica difícil não suspeitar
Que a sorte pulou pro seu lado
Que Deus passou a jogar no seu time

Pinte um quadro na sua mente
Dê um jeito de encapsular
Esse sentimento
rosa-choque-raro
Tem gente que vive uma vida inteira
Sem nunca experimentar essa trip
Sem sequer saber da existência
dessa droga
legalizada

Ô Ocitocina
Molécula do amor
Afrodite química
Queridinha dos hormônios
Te conheço
E não é de hoje
Eu sei que é você quem faz
esse mundo rodar
Enquanto brinca
de esconde-esconde

Aparece quando bem entende
E age como uma isca
Divinamente colocada na altura dos olhos
Dos distraídos como eu
Que quando vêm
Já se intoxicaram
E estão dispostos a fazê-lo
Quantas vezes
for preciso

Afinal
Do crente ao ateu
Rico ao pobre
Velho ao jovem
Quem é que não quer
Se entorpecer de amor
E flutuar por aí
Alheio ao caos
Tal qual as borboletas
da Avenida
Paulista

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