Tem dias que eu acordo com mantra, outros ouvindo 2pac.
Meu estilo vai de dondoca a moleque skatista. Sou doce, leve, discreta. E em seguida, a mulher mais tagarela, irritante e teimosa que você já viu na vida.
Independente e carente, palhaça e séria, romântica e prática, desapegada e materialista. Hippie demais pra ser patricinha, patricinha demais pra ser hippie.
E quando parecer que eu finalmente me “encontrei”… que achei um estilo, um grupo, uma paleta, que escolhi caminho, um país, uma carreira… você vai ver eu me desfazer de tudo, crença por crença, calcinha por calcinha, só pelo fascínio de recomeçar nua e crua.
Falando em recomeçar, sou apaixonada por gente doida capaz de largar tudo, mas tenho absoluto pavor de quem acredita que esse é o único caminho pra uma vida interessante.
Sou seletiva pra caramba, exigente com conversas e cias, e ao mesmo tempo a pessoa mais fácil de entreter.
Me chame pro pagode, pro bar, pro terreiro, pra trilha, pro mercadão, pra fazer baldeação na Sé as seis da tarde. Se meu santo bater com o seu, não quero saber do que se trata, vamo, que horas, já topei antes de ler.
Há muito tempo aprendi que mais vale a cia certa no lugar errado do que a cia errada no lugar certo. E por isso, se eu tiver que me editar pra caber na sua presença, dane-se o contexto, o glamour, a programação – você conhecerá minha faceta mais sem graça, minha expressão mais blasé. Sorrirei e direi “Até a próxima” enquanto cochicho pra mim mesma, “Adeus”.
Se formos amigos, aviso importante: sumirei por semanas, talvez meses, mas estarei lá pra você em segundos, sempre que precisar de mim.
Serei a penúltima a dar parabéns, quando der… Vivo meio alheia a acontecimentos e datas importantes – e por isso não ligo se ano após ano você se esquecer do meu aniversário.
Mas nunca, jamais, estrague meu réveillon… Muita gente não sabe mas isso causa 7 anos azar. Falando em azar, uso muito a palavra sorte, mas acredito mesmo em merecimento.
Dessa, e de outras vidas. E em tantas outras coisas… de ETs à realidades paralelas, everything in between, menos cristais, que ainda não sei resolvi se amo ou se acho uma grande besteira.
Não tenho religião mas adoro uma musiquinha de igreja evangélica gringa, não suporto missa mas pago um pau pra fé católica, sou fã do espiritismo mas a favor do aborto.
Já fui uma mulher de muitas suposições… viciada em criar conclusões, mas hoje eu pergunto, muito, tudo, na lata. E acredito no que o outro me diz, seja ele quem for, porque viver desconfiada dá muito trabalho.
Por isso, se um dia quiser que eu desapareça da sua vida, use e abuse da minha inocência, minta, olhando no fundo do meu olho, depois enrole-se na sua própria história, até que a minha intuição me conte toda a verdade.
Ou melhor, e até mais rápido eficaz: perca muito, muito tempo e energia tentando me decifrar – bruxa ou santa, meiga ou louca, boa ou má, esperta ou ingênua?
Me coloque numa caixinha cinza, bem sem graça; diminua meu universo às suas impressões, minha história à poucas conclusões, aí sim – prometo que sumo, evaporo em tempo recorde, faço questão de estar bem longe antes mesmo de você chegar a alguma pobre definição.
Quero estar perto de gente que não veio aqui pra esclarecer, e sim pra confundir. Gente que morre de medo de se aprisionar numa só identidade e nunca mais conseguir se libertar.
Que mergulha no próprio eu e torce pra não dar pé, pra que haja sempre algo a ser descoberto.
São Paulo, Julho de 2022.