ESCRITO POR
beasbeghen

Essa é a Rê – Carta para o Antônio

Antônio, você ainda não é capaz de ler isso, mas em breve – já que ainda não podemos congelar o tempo, vai ser.

Queria te contar que, ver a felicidade da sua mãe e a emoção do seu pai enquanto esperava pela noiva mais perfeita do mundo, fez passar um filme na minha cabeça. Vi tudo o que a vi viver antes de chegar naquele instante, que veio a ser o momento mais importante da vida dela, depois do seu nascimento.

Por enquanto eu sou só a tia que só sabe falar de cangurus, eu sei, mas já que a história dessa amizade está fresca em mim agr, resolvi me adiantar e contar, pro seu Eu do futuro, pelo menos um pedacinho.

Começando pela época em que a nossa vida era um seriado. Friends (que vc ainda vai assistir e se Deus quiser amar), só que em dupla. Talvez pq cada uma de nós possui 3 personalidades diferentes e assim nos tornamos um duo com energia de grupo (segundo qm? nós mesmas), talvez pq temos um dialeto que ninguém mais consegue acompanhar… Não sei. Só sei que as pessoas iam e vinham, e a gente continuava ali. E sempre bastava.

Tiveram mtas festas, algumas viagens, histórias engraçadíssimas (das quais ela lembra detalhes vide memória de HD externo) mas o que mais marcou foram as séries de vários nada, que eram sempre td que a gente precisava.

O bar da praça, onde seus pais se conheceram, era o nosso “Central Perk”, nossa Sunday Church. E sabe aquele apartamento onde você se aventura até na lavanderia? Então, só falta pintar as paredes de lilás pra que ele vire oficialmente nosso cenário de Friends.

Ali, naquela mesa que pra mim tem cheiro de hibisco e café fresquinho, eu e sua mãe rimos tanto… Aquela risada que não dá pra controlar sabe (sei que sim pq é como vc reage às palhaçadas do seu pai) e tb choramos, filosofamos, procrastinamos, estudamos, planejamos esquemas de cola (não faça isso mas se fizer não erre o nome do coleguinha) stalkeamos, confesso, a ponto de recusarmos várias propostas pra trabalhar no FBI; sonhamos alto… e na cia de muitos litros de vinho exorcizamos nossas dúvidas sobre um futuro que parecia tão incerto…

E que veio a ser surpreendentemente maravilhoso. E bem fora do script, do jeitinho que a gente gosta.

Cada uma com seu Universo, eu e ela sempre fomos de muitas e ótimas amizades, e por isso nunca competimos pelo posto ou título de melhor amiga. Sempre soubemos exatamente o espaço – único e imenso – que ocupamos na vida uma da outra, desde o primeiro segundo.

Amiga(o) dela é minha amiga(o) e vice-versa, não precisamos nunca ter visto nem conversado. Se passou pelas nossas respectivas peneiras e faz parte da nossa vida, automaticamente ganha nosso selo aprovação. Mas se trair a confiança, minha ou dela, “aaaaaaamor” a gente toma as dores mesmo. Ela então, canceriana… tsc tsc logo logo você vai entender.

E pra não falar que nunca brigamos, nos desentendemos uma vez na vida, qdo ficamos sem nos falar por uns dois meses, que, Antônio do céu… doeram mais que pé na bunda. Leve isso pra vida: Evite ao máximo brigar com um grande amigo. Briga de amizade dói de um jeito diferente, esquisito. Entre a gente então, parecia pegadinha. Das mais sem graça.

“Chega vai. Sazora? Ain’t nobody got time. Paige cardio” (eu disse que nossa linguagem requer estudo). Enfim, prática que somos, bastou uma msg pra que o mal entendido – que a gente nem lembrava mais qual era – se resolvesse.

Mais pra frente tudo mudaria e ficaríamos sem nos falar por mais que dois meses, algumas vezes, mas agora com a certeza de que mesmo em lados opostos do mundo, bastaria – e ainda basta – uma mensagem, pela metade, fora de contexto, do jeito que for, pra que a gente se conecte como se estivéssemos frente a frente.

E que um simples “VÉI” *em maiúsculo qdo indicando urgência* é o suficiente pra pararmos tudo e virarmos Biatriz&Renata – pq, modéstia à parte Antônio, nossas mentes brilhantes brilham ainda mais juntas. rs

Quando mudei pra Austrália e obviamente não pude enfia-la na mala, a levei em forma de adjetivo. Explico: conforme novos personagens iam entrando no filme da minha vida, eu percebia que muitos carregavam alguma característica dela. Um o sotaque, outra a risada, outros o nosso exato e peculiar senso de humor.

“Nossa, você me lembra mto a Re minha amiga”, falei algumas vezes, sempre deixando claro que esse é um dos maiores elogios que alguém pode receber. Sua mãe me ensinou, sem querer e sem saber, metade do que eu sei sobre amizade.

50% da amiga que eu sou eu devo a ela. Pq como seu pai colocou perfeitamente nos votos (mais lindos e originais do mundo, diga-se de passagem) ela não é amiga. Ela é A amiga.

Que lembra de detalhes de histórias que nem quem viveu lembra, que pega os B.Os de qm ama pra si e faz um comitê, um estudo de caso, um plano de ação pra ajudar a resolver. Fez isso cmg até no dia em que nada mais deveria importar além dela – no próprio casamento, vê se pode, horas antes de subir no altar (Renata juro por Deus eu não te aguento kkk).

Então, Antonio, qdo eu digo que ela não existe… I mean it. E você sabe, né. Por isso a escolheu a dedo. Ela é o cúmulo da lealdade e da competência, não só é A amiga mas A filha/irmã/esposa e mãe, sem nem se dar conta e muito menos reconhecer. Simplifica o que todo mundo complica, é phd em agir naturalmente.

Canceriana sensível, nostálgica, protetora e amorosa (como você, anjinho), ascendente em Áries na vibração mais elevada, direta e reta, decidida e independente; e lua em sagitário que é onde nos encontramos – otimismo e autenticidade é aonde fazemos morada, não à toa com ela eu me sinto em casa.

Talvez só ou nem a astrologia explique como pulamos, em questão de segundos, do profundo ao supérfluo, da prece à fofoca, do misticismo ao meme. Mas eu sei, Antônio, que “duas dúzias de amigos assim ninguém tem, se tiver um, amém.”

Eu tenho. E é o que te desejo. Independente dos caminhos que você escolher, que mais cedo ou mais tarde você esbarre em uma amizade assim – leve, sem cobranças, ora grude ora à distância, e que sobrevive a tudo.

E que você nunca, jamais, em hipótese alguma, se esqueça de algo que toda criança sabe, e que essa década de conexão nos ensinou:

Se divertir é, disparado, a coisa mais importante que existe.

São Paulo, Abril de 2022.

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