ESCRITO POR
beasbeghen

Estar desperta(o) é um milagre

A cor do mar, o calor no corpo depois do mergulho na água fria, o andar descalço, o som do vento – do silêncio; o cabelo embaraçado, salgado, molhado. O sol queimando como nunca senti, a pintura de nuvens rosas no céu lilás, as fases da lua, que tá sempre tão pertinho, as constelações, que não canso de tentar ser capaz de identificar.

Os dias pulsantes, coloridos. As descobertas. A coragem que derruba o medo. A delícia e o desafio do novo, de amar tudo o que sei mas amar mais o que não sei. Paro e olho pra tudo o que vivi. Foi tanto. Tem sido. Não só mares azuis e arco-íris em festivais, por mais que uns custem a acreditar. A transformação não é linda nem macia como essa areia branca. Mas vou pular essa parte. Me basta perceber: desde que cheguei, não mudei nadinha e mudei por inteiro.

Vejo tantos desejos sinceros conquistados que parece até que sobraram poucos pro futuro realizar. E mesmo assim vejo ele vindo, simpático. Porque meu coração sabe que ainda há mais, e muito. Olho ao meu redor. Tudo me encanta, estar desperta é um milagre. Tudo é motivo pra brilhar meus olhos – que aqui, vira e mexe enchem de lágrimas, e eu nem sou de chorar.

As vezes dá saudades – tem dias que é gostosa, noutros chega a doer. Aí lembro que a saudade que dói mais, mesmo, é aquela que se tem de si mesmo. Não sei se você já a sentiu, eu sim. Então honro e agradeço esse feliz encontro comigo. Ouço o que minha alma pede, e entrego. Corro porque faz com que eu me sinta viva, dou cambalhota se tiver vontade, entro e saio pulando do mar.

Vou te contar que não vejo graça nenhuma em viver com os dois pés no chão.

– Jervis Bay, Austrália, Maio de 2018.

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