Minha mãe ama contar que quando eu era criança, acontecia muito de eu chorar e, horas depois, ainda ter uma lágrima parada na minha bochecha, de tão bochechudinha que eu era/sou. Não sei ao certo o que aconteceu de lá pra cá, provavelmente coisas demais pra fazer caber aqui. O que sei é que hoje em dia poucas coisas enchem meus olhos a ponto de molhar essas mesmas bochechas. E olha que eu sou pisciana.
Escrevo isso e já imagino a Lu, minha amiga astróloga, falando “É seu ascendente em capricórnio, amiga… Sente tudo mas não deixa nem metade transparecer.” É… errada não tá. Mas, fazendo jus às minhas águas, as poucas coisas que me desarmam, me nocauteiam.
Idosos estão no topo dessa lista. Outro dia comecei a chorar no meio de uma loja de departamentos, porque vi um senhorzinho parecido com meu avô. Na verdade, uma mistura dos meus dois avôs, aparência de um e jeitinho do outro… Ambos já se foram.
No dia seguinte, conversando com a minha mãe, descobri que teria sido aniversário do meu Vô Bando e fiquei toda arrepiada. E feliz por ter permitido que aquela emoção ou, quem sabe, comunicação, chegasse até mim ali mesmo, no corredor de eletrodomésticos.
Árvores. Taí outra coisa que mexe comigo. Apesar de eu me encantar por todas, são as gigantes, centenárias, que me atraem como um ímã, me arrepiam e me aterram. Algumas me chamam tanto que não sossego até abraçá-las. Bem jovem mística mesmo. Puxei esse amor do meu pai, autor da frase “regar planta cura qualquer tristeza”, quem desde sempre protegeu as árvores do bairro e da cidade, e que até hoje arruma briga com a prefeitura quando vê um corte desnecessário.
Árvores e velhinhos. O que eles têm em comum? O que representam? Tô aqui tentando decifrar. Feminino e Masculino? Ancestralidade? Sabedoria? A perfeita representação do tanto que houve aqui antes de mim, e de ti? Já faz um tempão que tô tentando amarrar esse texto, brincando de esconde-esconde com a conclusão que insiste em me deixar com ainda mais perguntas.
Tanta coisa nesse mundo poderia me provocar o choro… Por que não bebês e flores?
Não faço ideia.
Será que preciso fazer?
Tenho curtido aceitar simplesmente não saber.
São Paulo, Junho de 2022.